segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

De Sorveteiro a Empresário

O Cine Argus marcou profundamente a vida e a formação de muitos castanhalenses. Éldio Sena foi um desses garotos nos quais o cinema de Seu Duca deixou marcas inesquecíveis. Hoje contador e dono de uma empresa de contabilidade em Castanhal, o garoto de origem humilde começou a trabalhar como sorveteiro do Cine Argus aos 14 anos, experiência que o enriqueceu culturalmente e ensinou a dar valor ao trabalho.

Éldio Sena em entrevista ao Memórias do Cine Argus

Os pais de Éldio se apresentavam nos shows de calouros comandados por Isidoro Batista, o Capiti, nas matinês dos domingos no auditório do Argus. O jovem sorveteiro tinha ainda dois tios que também trabalhavam no cinema, Mário Sena (projecionista) e um dos maiores ícones do cinema de Castanhal: o zelador-porteiro-lanterninha Joaquim Sena, mais conhecido como Pati. A história de sua família está entrelaçada, portanto, à história da família Carneiro, dona do então principal espaço cultural do município. As lembranças de Seu Duca são de uma pessoa séria, muito dedicada ao trabalho, à família e à educação dos filhos. "A gente viu que ele teve essa preocupação com a formação dos filhos. Essa discussão artística, intelectual, cultural era comum no meio deles. E eu atribuo isso a forma como ele conduziu e educou a família", lembra Éldio.


Ser sorveteiro tinha um sabor todo especial: assistir de graça a todos os filmes. Da posição que ficava a sorveteria, o menino podia atender aos clientes com uma vista especial da sala de projeção. Enquanto que para outros garotos menores de idade era preciso driblar o Pati na portaria, Éldio podia ver a qualquer filme. "A sorveteria fazia fundo para a sala de projeção. Então, eu ia pra lá assistir, que dava tanto para eu ir fiscalizar, verificar se tinha movimento dentro da sorveteria, quanto esses filmes eu assistia todos, né. Esses filmes que eram proibidos pra menores de 18 anos", relembra. 

As lembranças sobre seus anos no Cine Argus são muitas. Sobre o fechamento do cinema, Éldio lamenta a falta de zelo pela memória de Castanhal, lembrando que assim como o Argus, outros lugares importantes não foram preservados pelo poder público municipal, como a Estação de Ferro e o Mercado Municipal. "O final do Cine Argus foi um sentimento de vazio. Porque um sentimento de vazio? porque se você olha o Cine Argus só enquanto um cinema, uma sala de projeção, aí você pode dizer 'não, mas eu tenho o videocassete'. Mas o Cine Argus não foi só essa sala de projeção, ou podemos dizer assim, ele projetou não só filmes, mas ele projetou cultura, ele projetou costumes, ele projetou bons costumes, que era a participação das pessoas nesse sentido artístico-cultural. E a minha mãe, o meu pai, os meus tios.. ter participado daquilo e a gente ver de repente aquilo tudo se acabar, é algo que no momento a gente não tem a dimensão do que aquilo representava", relata.

Éldio Sena foi entrevistado para o filme Memórias do Cine Argus em 2012. Trechos de sua entrevista podem ser conferidos no curta-metragem já lançado. Outros relatos deverão aparecer na versão estendida que será apresentada em março de 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário