domingo, 25 de outubro de 2015

O Cineasta de Castanhal

A paixão de Manoel Carneiro Pinto Filho pelo cinema se materializou no Cine Argus e em todo o extenso circuito de exibição que se formou a partir deste. As influências sobre a cidade de Castanhal são incalculáveis. As sobre seus descendentes, diversas. Destas, uma das mais evidentes são as que foram exercidas em Francisco Queiroz Carneiro, o sexto filho de Seu Duca e Dona Nila (ao lado de Inácia Maria Carneiro Thury, sua irmã gêmea) que se tornou fotógrafo profissional e cineasta, dono da Produtora Argus em Maputo, Moçambique.

Chico Carneiro, como viria a ser conhecido profissionalmente (ou Chico “Mou” para os mais íntimos), iniciou suas primeiras realizações cinematográficas por meio de uma câmera 8mm comprada por Seu Duca, que sempre investiu muito na formação artístico-cultural dos filhos. “Todo mundo queria ser ou artista ou cineasta”, relembra Amílcar Carneiro, filho de Seu Duca que assumiu a programação do Cine Argus após o falecimento do pai. “E ele incentivava, ele comprou filmadora. Na época era difícil, caríssimo, era difícil você ter uma filmadora como tem hoje. Filmadora 8mm, filmava aquela película muda, preto e branco, de 3 minutos, tinha que mandar revelar pra poder assistir. Mas a gente brincava de fazer filmes. Isso levou meu irmão, Chico Carneiro, que foi um dos que pegou mesmo a paixão pela filmadora... porque a filmadora veio passando de irmão pra irmão, né. O primeiro irmão que queria uma filmadora foi o Pedro. (...) passou pra mim, eu comecei a fazer uns filmes, a gente geralmente filmava desfile do dia da pátria, um banho de igarapé, essas coisas. As vezes filmava e nem tinha dinheiro pra mandar revelar, o filme se perdia por aí (...) e a câmera passando de mão em mão, quando chegou na mão do Chico Mou, aí pronto, começou a fazer filme mesmo, brincar no quintal pra aprender a trabalhar com atores, essa coisa toda. Já profissional desde cedo”, recorda Amílcar.


O jovem Chico "Mou" Carneiro sentado em frente aos cartazes do saguão de entrada do Cine Argus (1967). Época das primeiras experiências com a filmadora 8mm.

“O mais importante foi o apoio incondicional do meu pai ao meu desejo de ser cineasta. Eu não tenho uma formação acadêmica, tudo o que eu aprendi foi fazendo, e nos primeiros passos com o apoio integral do meu pai, seja comprando o equipamento, seja comprando a película, seja pagando a revelação das mesmas, e não questionando ou criando qualquer obstáculo para que eu seguisse a carreira de cinema. Muito pelo contrário, ele apoiou completamente”, relata Chico Carneiro, em entrevista concedida ao documentário Memórias do Cine Argus em 2012.

A primeira grande oportunidade profissional de Chico Carneiro veio na primeira metade dos anos 70, com o filme Iracema, uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, na qual Chico Carneiro atuou como assistente de câmera. Foi a porta de abertura para trabalhar como assistente de câmera e de som em outros filmes importantes, com destaque para Pixote, de Hector Babenco e ABC da Greve, de Leon Hirzsman. Em 1983, surgiu a oportunidade para se mudar para Moçambique, onde trabalha como fotógrafo e cineasta desde então, produzindo diversos filmes, especialmente documentários. As férias, curtidas no Pará, são utilizadas para fazer filmes em seu estado de origem. Em 2001, produziu Os Promesseiros. Nos últimos anos, dedicou-se a produzir uma pentalogia sobre os barcos que percorrem os rios da Amazônia Paraense transportando madeira, gado, pessoas, cerâmica e pescado, formada pelos documentários Seu Didico, Paraense Velho Macho; Balsa Boeira; Nos Caminhos do Rei Salomão; Nas Barrancas do Rio Cariá; e Pescadores de Água Doce.

 Pôster de Iracema, uma Transa Amazônica (1976)

 Cena de Seu Didico, Paraense Velho Macho (Chico Carneiro, 2008)


A participação de Chico Carneiro em Memórias do Cine Argus é muito maior do que sua aparição no filme. Sua agenda lotada e as diversas produções em curso não o impediram de contribuir substancialmente para o Memórias, seja por meio de sua entrevista (gravada pelo próprio e gentilmente enviada de Moçambique), seja por meio de críticas e cessão de imagens. Várias das fotografias presente no filme são de sua autoria. Não bastasse tudo isso, Edivaldo Moura, diretor de Memórias do Cine Argus, tem nos filmes de Chico Carneiro uma de suas principais referências para seus trabalhos. 
Chico "Mou" Carneiro em Memórias do Cine Argus (2014)

Nenhum comentário:

Postar um comentário