sábado, 3 de outubro de 2015

Muito Mais que um Cinema

Ao longo dos 83 anos da história da cidade de Castanhal, o Cine Argus esteve presente durante quase 60 anos, levando entretenimento, informação e cultura à sociedade, e prestando serviços à mesma através da cessão de seu auditório e de seus auto-falantes a diversos eventos locais. O Cine Argus movimentou a vida cultural da cidade de Castanhal e influenciou várias gerações. Sua história, portanto, está intrinsecamente relacionada à história dessa cidade. O resgate de suas memórias representa, nesse sentido, ao resgate de parte significativa da história e da cultura de Castanhal, o que condiz com um dos objetivos da política municipal de cultura preconizados no Plano Diretor Participativo de Castanhal: “Promover o resgate da memória como um bem cultural e como forma de transformação social e política”.
Mas... o que foi de fato o Cine Argus? O que o Cine Argus fez pela nossa cidade? O Cine Argus foi tanta coisa... e fez tanta coisa! Pra começar, ele foi um cinema. No Cine Argus assistimos seriados e, muito antes das novelas, sofremos com a expectativa do próximo capítulo. “Será que o mocinho vai conseguir escapar dessa? Não percam o próximo episódio!”. E é claro que ninguém perdia.
O Cine Argus nos fez amar os filmes de faroeste! Quisemos ser os personagens vividos por Giuliano Gemma e John Wayne. E nos fez apaixonar! Marylin Monroe, Brigitte Bardot, Sônia Braga. James Dean, Tom Cruise, Marlon Brando. Projetamos nossas estrelas do cinema na pessoa sentada ao nosso lado e vivemos inesquecíveis romances. Quantos namoros começaram no Cine Argus!
O Cine Argus também nos fez querer brigar. Pelo menos, de brincadeira. Quem nunca tentou imitar os golpes dos filmes de karatê, ser Bruce Lee, Stalone Cobra, Rocky Balboa, O Último Dragão Branco de Van Damme, Braddock, Rambo, Conan e diversos outros personagens dos filmes de ação? E quem nunca quis ser um jedi? Aliás, quem é que não ficou de queixo caído quando Darth Vader disse ao Luke Skywalker: “eu sou seu pai”?
O Cine Argus nos fez rir, e rir demais! Nos apresentou clássicos das chanchadas, com Oscarito, Grande Otelo e companhia. E quantas filas gigantescas se formaram dobrando o quarteirão, por causa de um único motivo. Aliás, de quatro: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Que crianças felizes nós fomos com os Trapalhões!...
O Cine Argus fez parte de nossas tradições religiosas. Programa obrigatório da semana santa de todo católico que se prezava. Quantas vezes assistimos A Vida de Cristo, ano após ano, e com a mesma empolgação? A maior bilheteria de todos os tempos do Cine Argus era o maior milagre de Cristo, como dizia Seu Duca.
E o cinema de Seu Duca trazia as notícias do Brasil e do mundo também. Alguém lembra dos cinejornais Atlântida? E de quantas vezes vibramos com os gols do Canal 100?
Mas, o Cine Argus também nos fez sentir medo. Que o digam as garras do Freddy Krueger e o terçado do Jason, que não importava o quanto você corresse, ele ia só na manha e sempre te alcançava! E pra nos socorrer de todos os nossos temores, só mesmo Os Caça-Fantasmas!
Quem não se lembra da sua primeira sessão no Cine Argus? Eu lembro da minha. Aliás, se eu tivesse que elencar as coisas que me mais me encantaram ao longo da vida, certamente que dentre elas estaria aquela inesquecível tarde de domingo na qual eu mergulhei meus olhos no telão do Cine Argus pela primeira vez. A Volta dos Mortos Vivos II. Se hoje eu sou fascinado por zumbis e não perco um só capítulo de The Walking Dead, a culpa é do Cine Argus.
O Cine Argus nos aproximou da cultura nipônica e foi muito importante para a integração da colônia japonesa em nossa cidade através da exibição de diversos filmes japoneses, nos dando o deleite de apreciar a magnífica fotografia dos filmes de Akira Kurosawa.
O Cine Argus mexeu com nosso sentidos. Imperou sobre nossos sentidos. E falando em Império dos Sentidos... Quem não esperou ansiosamente por completar 18 anos para pode entrar nas sessões de terça e quarta-feira? E quem não tentou entrar antes disso? Numa época em que o acesso aos conteúdos eróticos não era banalizado e que uma atmosfera de mistério, curiosidade e proibição – que sempre torna a coisa mais gostosa! – pairava sobre os filmes pornôs, o Cine Argus embalou as fantasias de muitos jovens... Como diria o Pati: “tinha muito muleque perverso!”.
Mas, o Cine Argus não era apenas uma sala de exibição. Na verdade, o Cine Argus era muito mais do que um cinema! O Cine Argus era um ponto de encontro. Era o point pra muita coisa que acontecia na cidade. Durante os 83 anos de Castanhal, o Cine Argus foi a principal referência cultural por quase seis décadas. Estaria com 77 anos se ainda existisse. Seu auditório abrigou peças de teatro e shows musicais (por aqui estiveram Luiz Gonzaga, Jerry Adriani, o Palhaço Carequinha e vários outros) e também sediou reuniões de sindicato, convenções partidárias e outros eventos solenes.
Seus auto-falantes levaram música, informação, recados e outros serviços de utilidade pública. E deram suporte à realização dos desfiles de 7 de Setembro e aos bailes de carnaval na Avenida Barão do Rio Branco.  
Por meio de sessões promocionais, diversos jovens conseguiram custear formaturas e viagens para participação em eventos. E não dá pra esquecer dos célebres shows de calouros das manhãs de domingo, nos quais diversos jovens castanhalenses alimentaram seus sonhos de se tornarem estrelas da música. Ou, pelo menos, de ganhar brindes e se deliciar com os pães da Panificadora Atlântida.

(trecho do discurso de Edivaldo Moura, antes da exibição de Memórias do Cine Argus na Funcast. 29/05/2015).

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