Ao longo dos 83 anos da história
da cidade de Castanhal, o Cine Argus esteve presente durante quase 60 anos,
levando entretenimento, informação e cultura à sociedade, e prestando serviços à mesma através da cessão de seu auditório e de seus auto-falantes a diversos
eventos locais. O Cine Argus movimentou a vida cultural da cidade de Castanhal
e influenciou várias gerações. Sua história, portanto, está intrinsecamente
relacionada à história dessa cidade. O resgate de suas memórias representa,
nesse sentido, ao resgate de parte significativa da história e da cultura de
Castanhal, o que condiz com um dos objetivos da política municipal de cultura
preconizados no Plano Diretor Participativo de Castanhal: “Promover o resgate
da memória como um bem cultural e como forma de transformação social e
política”.
Mas... o que foi de fato o Cine
Argus? O que o Cine Argus fez pela nossa cidade? O Cine Argus foi tanta
coisa... e fez tanta coisa! Pra começar, ele foi um cinema. No Cine Argus
assistimos seriados e, muito antes das novelas, sofremos com a expectativa do
próximo capítulo. “Será que o mocinho vai conseguir escapar dessa? Não percam o
próximo episódio!”. E é claro que ninguém perdia.
O Cine Argus nos fez amar os
filmes de faroeste! Quisemos ser os personagens vividos por Giuliano Gemma e
John Wayne. E nos fez apaixonar! Marylin Monroe, Brigitte Bardot, Sônia Braga.
James Dean, Tom Cruise, Marlon Brando. Projetamos nossas estrelas do cinema na
pessoa sentada ao nosso lado e vivemos inesquecíveis romances. Quantos namoros
começaram no Cine Argus!
O Cine Argus também nos fez
querer brigar. Pelo menos, de brincadeira. Quem nunca tentou imitar os golpes
dos filmes de karatê, ser Bruce Lee, Stalone Cobra, Rocky Balboa, O Último
Dragão Branco de Van Damme, Braddock, Rambo, Conan e diversos outros
personagens dos filmes de ação? E quem nunca quis ser um jedi? Aliás, quem é
que não ficou de queixo caído quando Darth Vader disse ao Luke Skywalker: “eu
sou seu pai”?
O Cine Argus nos fez rir, e rir
demais! Nos apresentou clássicos das chanchadas, com Oscarito, Grande Otelo e
companhia. E quantas filas gigantescas se formaram dobrando o quarteirão, por
causa de um único motivo. Aliás, de quatro: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Que
crianças felizes nós fomos com os Trapalhões!...
O Cine Argus fez parte de nossas
tradições religiosas. Programa obrigatório da semana santa de todo católico que
se prezava. Quantas vezes assistimos A Vida de Cristo, ano após ano, e com a
mesma empolgação? A maior bilheteria de todos os tempos do Cine Argus era o
maior milagre de Cristo, como dizia Seu Duca.
E o cinema de Seu Duca trazia as
notícias do Brasil e do mundo também. Alguém lembra dos cinejornais Atlântida?
E de quantas vezes vibramos com os gols do Canal 100?
Mas, o Cine Argus também nos fez
sentir medo. Que o digam as garras do Freddy Krueger e o terçado do Jason, que
não importava o quanto você corresse, ele ia só na manha e sempre te alcançava!
E pra nos socorrer de todos os nossos temores, só mesmo Os Caça-Fantasmas!
Quem não se lembra da sua
primeira sessão no Cine Argus? Eu lembro da minha. Aliás, se eu tivesse que
elencar as coisas que me mais me encantaram ao longo da vida, certamente que
dentre elas estaria aquela inesquecível tarde de domingo na qual eu mergulhei
meus olhos no telão do Cine Argus pela primeira vez. A Volta dos Mortos Vivos
II. Se hoje eu sou fascinado por zumbis e não perco um só capítulo de The
Walking Dead, a culpa é do Cine Argus.
O Cine Argus nos aproximou da
cultura nipônica e foi muito importante para a integração da colônia japonesa
em nossa cidade através da exibição de diversos filmes japoneses, nos dando o
deleite de apreciar a magnífica fotografia dos filmes de Akira Kurosawa.
O Cine Argus mexeu com nosso sentidos.
Imperou sobre nossos sentidos. E falando em Império dos Sentidos... Quem não
esperou ansiosamente por completar 18 anos para pode entrar nas sessões de
terça e quarta-feira? E quem não tentou entrar antes disso? Numa época em que o
acesso aos conteúdos eróticos não era banalizado e que uma atmosfera de
mistério, curiosidade e proibição – que sempre torna a coisa mais gostosa! –
pairava sobre os filmes pornôs, o Cine Argus embalou as fantasias de muitos
jovens... Como diria o Pati: “tinha muito muleque perverso!”.
Mas, o Cine Argus não era apenas
uma sala de exibição. Na verdade, o Cine Argus era muito mais do que um cinema!
O Cine Argus era um ponto de encontro. Era o point pra muita coisa que
acontecia na cidade. Durante os 83 anos de Castanhal, o Cine Argus foi a
principal referência cultural por quase seis décadas. Estaria com 77 anos se
ainda existisse. Seu auditório abrigou peças de teatro e shows musicais (por
aqui estiveram Luiz Gonzaga, Jerry Adriani, o Palhaço Carequinha e vários outros) e também
sediou reuniões de sindicato, convenções partidárias e outros eventos solenes.
Seus auto-falantes levaram
música, informação, recados e outros serviços de utilidade pública. E deram
suporte à realização dos desfiles de 7 de Setembro e aos bailes de carnaval na
Avenida Barão do Rio Branco.
Por meio de sessões promocionais, diversos
jovens conseguiram custear formaturas e viagens para participação em eventos. E
não dá pra esquecer dos célebres shows de calouros das manhãs de domingo, nos
quais diversos jovens castanhalenses alimentaram seus sonhos de se tornarem
estrelas da música. Ou, pelo menos, de ganhar brindes e se deliciar com os pães
da Panificadora Atlântida.
(trecho do discurso de Edivaldo Moura, antes da exibição de Memórias do Cine Argus na Funcast. 29/05/2015).
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