A paixão de Manoel Carneiro Pinto Filho pelo cinema
se materializou no Cine Argus e em todo o extenso circuito de exibição que se
formou a partir deste. As influências sobre a cidade de Castanhal são
incalculáveis. As sobre seus descendentes, diversas. Destas, uma das mais
evidentes são as que foram exercidas em Francisco Queiroz Carneiro, o sexto
filho de Seu Duca e Dona Nila (ao lado de Inácia Maria Carneiro Thury, sua irmã
gêmea) que se tornou fotógrafo profissional e cineasta, dono da Produtora Argus
em Maputo, Moçambique.
Chico Carneiro, como viria a ser conhecido
profissionalmente (ou Chico “Mou” para os mais íntimos), iniciou suas primeiras
realizações cinematográficas por meio de uma câmera 8mm comprada por Seu Duca,
que sempre investiu muito na formação artístico-cultural dos filhos. “Todo mundo queria ser ou artista ou
cineasta”, relembra Amílcar Carneiro, filho de Seu Duca que assumiu a programação
do Cine Argus após o falecimento do pai. “E
ele incentivava, ele comprou filmadora. Na época era difícil, caríssimo, era
difícil você ter uma filmadora como tem hoje. Filmadora 8mm, filmava aquela
película muda, preto e branco, de 3 minutos, tinha que mandar revelar pra poder
assistir. Mas a gente brincava de fazer filmes. Isso levou meu irmão, Chico
Carneiro, que foi um dos que pegou mesmo a paixão pela filmadora... porque a
filmadora veio passando de irmão pra irmão, né. O primeiro irmão que queria uma
filmadora foi o Pedro. (...) passou
pra mim, eu comecei a fazer uns filmes, a gente geralmente filmava desfile do
dia da pátria, um banho de igarapé, essas coisas. As vezes filmava e nem tinha
dinheiro pra mandar revelar, o filme se perdia por aí (...) e a câmera passando de mão em mão, quando
chegou na mão do Chico Mou, aí pronto, começou a fazer filme mesmo, brincar no
quintal pra aprender a trabalhar com atores, essa coisa toda. Já profissional
desde cedo”, recorda Amílcar.
O jovem Chico "Mou" Carneiro sentado em frente aos cartazes do saguão de entrada do Cine Argus (1967). Época das primeiras experiências com a filmadora 8mm.
“O mais
importante foi o apoio incondicional do meu pai ao meu desejo de ser cineasta.
Eu não tenho uma formação acadêmica, tudo o que eu aprendi foi fazendo, e nos
primeiros passos com o apoio integral do meu pai, seja comprando o equipamento,
seja comprando a película, seja pagando a revelação das mesmas, e não
questionando ou criando qualquer obstáculo para que eu seguisse a carreira de
cinema. Muito pelo contrário, ele apoiou completamente”, relata Chico
Carneiro, em entrevista concedida ao documentário Memórias do Cine Argus em 2012.
A primeira grande oportunidade profissional de Chico
Carneiro veio na primeira metade dos anos 70, com o filme Iracema, uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna,
na qual Chico Carneiro atuou como assistente de câmera. Foi a porta de abertura
para trabalhar como assistente de câmera e de som em outros filmes importantes,
com destaque para Pixote, de Hector Babenco
e ABC da Greve, de Leon Hirzsman. Em
1983, surgiu a oportunidade para se mudar para Moçambique, onde trabalha como
fotógrafo e cineasta desde então, produzindo diversos filmes, especialmente
documentários. As férias, curtidas no Pará, são utilizadas para fazer filmes em
seu estado de origem. Em 2001, produziu Os
Promesseiros. Nos últimos anos, dedicou-se a produzir uma pentalogia sobre
os barcos que percorrem os rios da Amazônia Paraense transportando madeira,
gado, pessoas, cerâmica e pescado, formada pelos documentários Seu Didico, Paraense Velho Macho; Balsa Boeira; Nos Caminhos do Rei Salomão; Nas
Barrancas do Rio Cariá; e Pescadores
de Água Doce.
Pôster de Iracema, uma Transa Amazônica (1976)
Cena de Seu Didico, Paraense Velho Macho (Chico Carneiro, 2008)
A participação de Chico Carneiro em Memórias do Cine Argus é muito maior do
que sua aparição no filme. Sua agenda lotada e as diversas produções em curso
não o impediram de contribuir substancialmente para o Memórias, seja por meio de sua entrevista (gravada pelo próprio e
gentilmente enviada de Moçambique), seja por meio de críticas e cessão de
imagens. Várias das fotografias presente no filme são de sua autoria. Não
bastasse tudo isso, Edivaldo Moura, diretor de Memórias do Cine Argus, tem nos filmes de Chico Carneiro uma de
suas principais referências para seus trabalhos.
Chico "Mou" Carneiro em Memórias do Cine Argus (2014)