Blog de produção dos documentários "Memórias do Cine Argus" e "O Cinema de Seu Duca", que tem por objetivo resgatar, em diálogo com a sociedade, a história do cinema de rua que movimentou a vida cultural do município de Castanhal (PA) e influenciou diversas gerações ao longo de seis décadas, e a saga de Manoel Carneiro Pinto Filho, mais conhecido como Duca do Cinema.
O curta-metragem Memórias do Cine Argus terá sua estréia
internacional no dia 02/05/2015, na cidade de Leiria, em Portugal. Será exibido
na programação do Cinantrop - Festival Internacional de Cinema
Etnográfico.
Memórias do Cine Argus foi selecionado para o CinANTROP -
Festival Internacional de Cinema Documental-Etnográfico, de Portugal. Será
exibido de 28 de Abril a 2 de Maio na cidade de Leiria.
A participação no CinANTROP marca a estréia internacional de nosso filme!
O Mimo - Museu da Imagem em Movimento, localizado em Leiria, é um dos espaços
da cidade no qual as exibições do festival acontecerão.
Mimo - Museu da
Imagem em Movimento (Leiria/Portugal)
Algumas músicas marcam de tal forma acontecimentos, pessoas e lugares que é impossível não se ver imerso em recordações ao ouvi-las. Em relação ao Cine Argus, a música que sem sombra de dúvida mais marcou a existência do cinema de Castanhal foi o "Conserto de Varsóvia", de Richard Addinsell.
O Cine Argus possuia um sistema de auto-falantes que Seu Duca chamava "Departamento de Publicidade do Cine Argus". De enorme importância para a rotina da cidade, anunciava os filmes que seriam exibidos, veiculava notícias, anunciava as principais manchetes dos jornais vindos de Belém, fazia serviços de utilidade pública, informava sobre falecimentos na cidade, transmitia jogos, dava suporte para os tradicionais desfiles de 7 de setembro e, é claro, tocava músicas. Antes do início de cada sessão, tocavam algumas músicas.
Moacir Silva, radialista e dono do Jornal A Tribuna de Castanhal, foi pintor de cartazes e também fez locução no Departamento de Publicidade do Cine Argus. Um dos entrevistados do documentário "Memórias do Cine Argus", Moacir lembra que a última música que tocava era sempre o Conserto de Varsóvia, anunciando aos espectadores que a sessão já ia começar. As pessoas que estavam se dirigindo ao Cine Argus, quando ouviam o Conserto de Varsóvia, apressavam seus passos, pois sabiam que o filme já ia começar.
O vídeo abaixo, gentilmente compartilhado por Jairo Moreira, um frequentador assíduo do Cine Argus, mostra uma interpretação de O Conserto de Varsóvia, feito pela pianista Valentina Listsa e pela BBC Concert Orchestra, conduzidos pelo maestro Keith Lockhart. Com certeza, os amantes e frequentadores do Cine Argus vão se emocionar junto com Valentina.
Quem frequentou o Cine Argus sabe da importância do filme "A Vida e Paixão de Cristo", de Ferdinand Zecca e L. Nonguet, filme francês de 1903 que era exibido religiosamente (literalmente) todos os anos no cinema de Seu Duca, por ocasião da semana santa. Durante muitos anos, fazia parte da tradição castanhalense ir à igreja participar das celebrações e, ao sair ir ao Cine Argus assistir ao filme "A Vida e Paixão de Cristo", conforme relatado por um dos entrevistados de nosso documentário, Éldio Sena, atual proprietário de uma empresa de contabilidade e sorveteiro do cinema nos anos 80.
Segundo Amílcar Carneiro, filho de Seu Duca e responsável pelo Cine Argus e todo o circuito de exibição após o falecimento do pai, na sexta-feira santa o filme de Ferdinand Zecca chegava a ser exibido em cinco sessões ao dia, sendo o único filme a alcançar essa proeza na história do Argus. Apesar de ser um filme do período do cinema mudo, a versão exibida todos os anos era narrada e com fundo musical.
"A Vida e Paixão de Cristo" fez sucesso não só no Cine Argus, mas em vários cinemas ao redor do mundo. Mas, no Cine Argus e em todo o circuito de exibição de Seu Duca, composto por cerca de 30 cinemas no interior do Pará e estados vizinhos, o filme foi sucesso absoluto durante quase 40 anos, garantindo sempre um enorme público. Na entrevista ao documentário "Memórias do Cine Argus", Amílcar Carneiro lembra que seu pai chamava o sucesso de bilheteria do filme de Ferdinand Zecca como "o maior milagre de Cristo". O Cine Olympia, em Belém, cinema de rua mais antigo em funcionamento do Brasil, reconhecendo a importância desse filme, fez uma exibição nesta quinta-feira santa, dia 02 de abril de 2015. Abaixo, imagens do filme.